Depois de uma semana de desaceleração e muito repouso, devido a uma infecção que me obrigou a diminuir a potência de 220v para 110v, meu corpo fala e muito nesses momentos, mesmo quase 31 anos habitando ele ainda tenho dificuldade em aceitar bem as intervenções.

Como acordei me sentindo melhor, decidi fazer uma faxina mínima em casa, para sentir aquela paz que só um chão limpo pode proporcionar, sabe? Em paralelo, decidi fazer uma receita de carne de panela desfiada que estava há tempos com vontade de comer, mas que tinha um preparo um pouco mais longo e ideal para fazer enquanto eu limpava a casa.


Segui passo a passo da receita: deixar a carne em temperatura ambiente, tirar o excesso de gordura, cortar a carne em pedaços de 7cm, esquenta o azeite, doura a carne, depois água quente para raspar o fundinho para dar sabor, por fim, juntar a carne completar com água e vinagre, por fim, levar a panela para pegar pressão, acendi o fogo e comecei a lavar a louça.
Assim que a panela começou a chiar com a pressão, coloquei o cronômetro de 40 minutos e segui para a próxima atividade da faxina, uns minutos depois, fui acertada por uma lembrança. Parei o que estava fazendo e me vi no sofá da sala da casa da minha mãe, sentada com a televisão ligada, enquanto o chiado da panela pegando pressão se unia ao som da minha mãe lavando o banheiro, ela assoviando e cantarolando enquanto esfregava o chão, veja, é uma memória que parece simples ao tão cotidiano e você pode se perguntar o porquê ela é importante, mas aquela memória me acertou porque aquilo era amor, aqueles sons da minha infância e adolescência me trouxeram até aqui.

Minha mãe nunca foi de dizer Eu te amo enquanto eu crescia, o amor dela sempre foi o de serviço, meu único foco era estudar porque o resto, minha mãe estava ali e os sons de sábado eram esses, o dia que. ela estava em casa e não sossegava enquanto tudo não estivesse brilhando. Ali, no meio da minha faxina, eu me dei conta do porquê o chão limpo me dá paz, porque eram os dias que minha mãe estava em casa, cuidando de nós. Senti um sentimento profundo de acolhimento, privilégio e orgulho, porque mesmo sem perceber minha mãe me deu mecanismos de autoacolhimento e traduziu o que era amor.

Às vezes, a gente só precisa de uma lembrança feliz para lembrar todo o caminho que a gente trilha, todas as coisas que deram muito certo até aqui, que tantas vezes a gente dá importância para grandes gestos, mas é ali no dia a dia que a vida se constrói. Minha mãe tem uma frase que repete frequentemente para mim “Ter uma vida feliz não é ser feliz o tempo inteiro, mas saber identificar os momentos de felicidade que vão fazer todos os outros valerem a pena”.

Mandei uma mensagem, meio sorrindo e com a voz meio embargada pela lembrança, precisava contar a ela que mesmo que naquela época, em ela não se sentisse valorizada o suficiente
, queria que ela soubesse que essas lembranças ainda ressoam em mim, que são esses momentos em que a gente nem se dava conta que eu construía quem eu sou.

De quantas lembranças felizes ou não, você é feito?